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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Rainha do Voodoo


Marie Laveau

Marie Laveau - por Tammybeck
Marie Laveau - por Tammybeck


Uma negra nascida livre, em 10 de setembro de 1782, em Nova Orleans – Estados Unidos, a respeito da qual se contam inúmeros feitos psíquicos e sobre a qual existem muitas controvérsias, inclusive quando ao seu local de nascimento, que autoridades renomadas com as quais temos contato, afirmam ter ocorrido no Haiti.

Conta-se sobre ela que seria filha de um agricultor branco com uma mulher negra, mulher esta que, como ela, praticaria artes divinatórias e magia, incluindo vudu.

Sabe-se com segurança que Marie casou com Jacques Paris, negro e livre, no dia 04 de agosto de 1819, conforme consta de sua certidão de casamento, até nossos dias conservada na Catedral de Saint Louis, em Nova Orleans.

No ano seguinte, Paris morreu em circunstâncias não esclarecidas, passando Marie a trabalhar como cabeleireira, especialmente para famílias abastadas da época.

Consta que Marie e seu esposo tiveram quinze filhos, dentre eles Marie Laveau II, nascido c. 1827, que posteriormente deu continuidade ao trabalho de sua mãe.

Estudiosos acreditam que a mãe era mais poderosa enquanto a filha mais disposta a realizar eventos públicos (incluindo convidar participantes para rituais de São João da véspera em Bayou St. John). Elas receberam quantidades variadas de apoio financeiro para a continuidade de seus trabalhos e não se sabe qual das duas pode ter feito mais para estabelecer a reputação de rainha voodoo.

Marie enamorou-se com Luis Christopher Duminy de Glapion, vivendo em sua companhia até a data de sua morte, em 1.835.
Voodoo Veve Damballah Aida-Wedo - por Magierindamona

Marie teria como animal de estimação uma cobra de nome “Zombi”. Quanto a esta serpente, teria ela também o nome “Iwa Damballah Wedo”.

“No Vodou, Damballah é um dos mais importantes de todos os loa. Ele é tanto membro da família Rada como uma raiz, ou racine Loa. É representado como um serpente e associa-se estreitamente com cobras. Ele é considerado o pai de todos os loa e, juntamente com sua esposa/companheira Ayida Weddo, considerado no Vodou haitiano o Loa de criação.
“Algumas de suas canções rituais indicam que ele "transporta os antepassados", na sua volta ao Ginen (casa espiritual do Loa, e o pós-vida). Sua esposa é a serpente arco-íris Ayida Weddo (ele também é casado com a Erzulie Freda). Como um loa da nação Rada está associado com a cor branca. Sua cor especial é o branco. Suas oferendas são muito simples e que ele prefere um ovo em um monte de farinha. Algumas casas também servem-lhe com anisete (licor de anis) e xarope de milho. Ele não fala quando se apresenta em sua posse, mas faz barulhos, sibilam como uma cobra.
“Na maioria das casas, ele é sincretizado com uma das imagens católicas de Moisés ou St. Patrick.
“Nomes alternativos: Damballa Weddo (filho de Odan Wedo), Danbala, Zombi, Danbala Wedo, Damballah Weddo, Danbhala Weddo, Obatalá.” (fonte – Wikipedia)




Há relatos de grandes curas de males minimamente estranhos atribuídas à magia de Marie Laveau. Esta magia, segundo se fala, incluiria uma miscigenação de crenças católicas e africanas, como também outros conceitos religiosos.

Também se atribui àquela magia uma grande clarividência e íntimo conhecimento do que se passava nos lares das famílias da época, especialmente daquelas mais abastadas.

Quanto à sua morte, muito se fala e pouco realmente se sabe. Nossa fonte de grande conhecimento informa que Marie teria sido condenada à morte por enforcamento pela prática de magia, que nunca negou.

Mary Poppins - por Madame Lazonga
Mary Poppins - por Madame Lazonga
No momento da execução da sentença, Marie teria levitado sobre a cabeça de seus executores e dos expectadores, fazendo uso de um guarda-chuva, fato este que pode ter inspirado a criação da personagem “Mary Poppins” (veja um algo sobre este vôo no final do trecho de filme que você encontra neste link).

Diversos jornais de Nova Orleans publicaram notícias a respeito da morte de Marie Laveau, no dia 16 de junho de 1.881, mas conta o popular que ela continuava a ser vista na cidade após esta data, fato que se tentou explicar, mas não de forma convincente, como tendo sido personificada por uma de suas filhas com Luis Christopher Duminy de Glapion.

De acordo com registros oficiais de Nova Orleans, uma certa Marie Glapion Lavau morreu em 15 de junho de 1881, aos 98 anos. A ortografia diferente do último nome, bem como a idade à morte pode resultar da abordagem informal século 19 para ortografia bem como relatos conflitantes sobre o nascimento do Laveau.

Oferendas para Marie Levau - por Star Cat
Oferendas para Marie Levau - por Star Cat
Marie Laveau teria sido sepultada no Cemitério de São Luís em Nova Orleans, na cripta da família Glapion. A tumba continua a atrair visitantes que desenham três cruzes (XXX) na lateral, esperando que o espírito dela lhes conceda a realização de um desejo.

A fama de Marie Laveau é tão absurdamente grande que personagens homenageando-o foram inseridos em inúmeros romances, especialmente aqueles que enveredam pelo ocultismo.

Nas histórias em quadrinhos da Marvel Comics, Marie Laveau é constantemente apresentada como adversária de Drácula e do Dr. Estranho.

Na música, é tema ou argumento das seguintes obras, dentre outras:

“Marie Laveau” – Bobby Bare – que você ouve clicando neste link 
“Clare” – Fairground Attraction – que você ouve clicando neste link 
“Marie Laveau – Rainha Voodoo” – Dr. John – que você ouve clicando neste link 
“Witch queen of New Orleans” – Redbone – que você pode ouvir clicando neste link 
“Wheel inside the Wheel”  - Mary Gauthier – que você pode ouvir clicando neste link 
“I will play for gumbo” – Jimmy Buffett – ouça clicando neste link
“Marie Laveau” - Craig Klein – ouça neste link

A prática religiosa ou mágica de Marie Laveau e de sua filha Marie Laveau II tinha tamanha popularidade que permitiu a conquista de grande número de seguidores multirraciais. Em 1874, cerca de 12 mil pessoas, negros e brancos, invadiram as margens do Lago Pontchartrain para ter um vislumbre de Marie Laveau II realizando seus ritos lendários na véspera de São João.

Consta que se deve a Marie Laveau a criação dos grandes enterros festivos (veja do que falamos clicando aqui) em Nova Orleans, pois que esta, tal qual a personagem central do filme intitulado "Imitação da vida"(saiba mais aqui) teria poupado dinheiro e realizado a programação de seu enterro. 



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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os cátaros



O catarismo foi um movimento religioso de grande influência, manifestado no sul da França e norte da Itália durante o período compreendido entre o final do século XI e meados do século XV e suas idéias tem fortes paralelos com o gnosticismo do início da era cristã. Os historiadores indicam sua formação a partir da expansão das crenças dos bogomilos (Reino dos Búlgaros) e dos paulicianos (Oriente Médio).

Los Cataros - por Cathar's prophet
Los Cataros - por Cathar's prophet
Os cátaros eram na essência maniqueístas, considerando que sua cosmogonia compreendia a existência de duas forças opostas – o Bem e o Mal.
Entretanto, consideravam-se verdadeiros cristãos, pelo que esta foi considerada uma seita cristã e maniquéia.


Para eles, a matéria teria sido criada pelo deus do mal, para aprisionar nela o espírito do Deus bom. Portanto, todo o universo material seria maligno, e o Criador do Mundo -- Deus adorado pelos Católicos -- seria o Deus do Mal. Um deus menor encarregado da criação do mundo, conhecido universalmente como Demiurgo, seria então sob esta ótica, o deus da matéria ou do mundo da matéria, o Deus supremo seria o principio de todas as coisas, a fonte do mundo divino.

Gravidez - por Rafoks
Gravidez - por Rafoks
A doutrina que entendia a criação como expressão do mal, “evoluiu” para considerar que qualquer expansão da criação era igualmente má. Assim, para os cátaros, a maternidade era condenada. A mulher, enquanto geradora de matéria, seria fonte do mal, entenda-se mal aqui, como a impossibilidade do ser humano de gerar seres perfeitamente espiritualizados, todo ser que nasce neste mundo, nasce por que é imperfeito e possui Karma, o nascimento poderia ser visto como uma possibilidade de resgate. O casamento e a procriação eram tidos como obras do deus do Mal, contudo ao mesmo tempo uma benção pois, evitava uma degeneração maior dos seres humanos, segundo a lei bíblica: é melhor casar do que abrasar.

Os sacerdotes aparentemente tinham uma vida simples, afastada dos prazeres do mundo, considerando que os consideravam expressão do mal. 

Eram considerados bons homens a partir do momento em que recebiam o consolamentum, um rito que representava de maneira simbólica sua morte com relação ao mundo. Os crentes (croyants) eram simpatizantes da doutrina cátara e somente recebiam o consolamentum nos momentos que antecediam sua morte. Os altos sacerdotes cátaros eram denominados perfeitos. Eles caminhavam entre o povo, sempre dois a dois, pregando o Amor universal e também auxiliando a população em suas necessidades.

Queima de libros - por derechoaleer
Queima de libros - por derechoaleer
O catolicismo passou a considerar o catarismo como uma perigosa heresia, daí seguindo-lhe uma perseguição com a instalação de tribunais da inquisição. Como todas as tentativas anteriores haviam falhado, a igreja católica implementou a conhecida cruzada contra os albigenses (referência aos cátaros habitantes da cidade de Albi e, por extensão, a todos os cátaros do sul da França). Essa foi a primeira cruzada a combater pessoas que se autodenominavam cristãs. A cruzada foi finda pela Rainha Regente Branca de Castela, mãe de São Luis Rei da França, que pertenciam à dinastia capetiana, extremamente católicas. Essa violenta cruzada marcou o fim do movimento cátaro.

A cruzada contra os cátaros durou 35 anos e foi iniciada em 1.209.

A primeira cidade tomada foi Beziers, e o massacre foi quase que total. O abade de Citeaux, representante papal, ao ser questionado sobre como seriam reconhecidos os cátaros e os católicos, ele havia respondido: " Matem a todos... Deus se encarregará dos seus..."


Maniqueus
Maniqueus

O que realmente foi o maniqueísmo?

Maniqueísmo é uma filosofia sincrética e dualista, que divide o mundo apenas entre o Bem e o Mal, cristalizados nas figuras de Deus e do Demônio, respectivamente.

Deus governaria o espírito, que seria o bem em essência, enquanto o Diabo comandaria a matéria, que seria o mal em forma.

Manes ou Mani
Manes, ou Mani
O fundador desta filosofia religiosa foi o profeta Manes, também conhecido como Mani (daí o nome “maniqueísmo”), que viveu entre 216 e 276 depois de Cristo, na Assíria.

Sua linha de pensamento e crença sincretizava elementos do Zoroastrismo (veja o artigo “Zoroastro”), do Hinduísmo, do Budismo, do Judaísmo(veja o artigo “Das arenas ao topo do império romano”) e do Cristianismo (veja os artigos “Os essênios – 1/3”, “Os essênios – 2/3” e “Os essênios – 3/3”).

Manes considerava Zoroastro, Buda e Jesus como "pais da Justiça" (veja os artigos “Avatares da Humanidade – 1/3”, “Avatares daHumanidade – 2/3” e “Avatares da Humanidade – 3/3”) e teve como objetivo purificar e superar as mensagens individuais daqueles.

Na visão de Manes, o mundo e a criação seriam essencialmente maus e teriam surgido da disputa entre as forças primordiais, quais sejam, os reinos da luz e das trevas. A redenção se daria por meio dos assim chamados “pais da justiça” já acima mencionados, cujas mensagens teriam sido deturpadas, pelo que o próprio profeta Manes teria vindo a este mundo, apresentando a ele os segredos da purificação da luz, reservados aos puros.

Cruz em lo alto - por Omar ML.
Cruz em lo alto - por Omar ML.
As idéias maniqueístas espalharam-se desde as fronteiras com a China até ao Norte d'África. Mani acabou crucificado no final do século III, e os seus adeptos sofreram perseguições na Babilônia e no Império Romano, neste último nomeadamente sob o governo do Imperador Diocleciano e, posteriormente, os imperadores cristãos. Apesar da igreja ter condenado esta doutrina como herética em diversos sínodos desde o século IV, ela permaneceu viva até à Idade Média.

O que ensinavam os maniqueístas:

  • ·         A fonte do Bem está na 'região da Luz'.
  • ·         O Rei da Luz é a Árvore da Vida. Eu assimilei a Lei da Luz. Eu sou Mani, o Apóstolo de Jesus, o Amigo da Luz.
  • ·         A Mente-Luz (Cristo) é o que desperta aqueles que dormem.
  • ·         No homem em quem a Mente-Luz está, sua é a Sabedoria.
  • ·         A Mente-Luz (a Mente Iluminada) é o Sol dos corações, a Senda dos que buscam, o Pórtico dos tesouros da Vida.
  • ·         Bem-aventurado é aquele que foi iniciado nesta Gnosis Divina.
  • ·         Eu encontrei a Terra da Luz. Eu fiz meu caminho para a Cidade dos Deuses.
  • ·         Eu tornei minha alma limpa – sou um servo de Deus [eu sou um Nazareno].
  • ·         Vocês são filhos do Dia e filhos da Luz. Jesus tem me auxiliado e ele poderá auxiliar vocês. Ele poderá dar-nos sua Compaixão.
  • ·         De tempos em tempos a Sabedoria envia os Mensageiros de Deus. Em idades após idades estes Mensageiros têm sido enviados pelo eterno rei da Luz [Zrwan]: Seth, Zoroastro, Buddha,  Christos. As primitivas religiões foram verdadeiras enquanto puros líderes estavam nelas.
  • ·         A presente revelação, esta profecia desta última idade, veio para a Babilônia através de mim, Mani, para as outras escolas e para as outras heresias. Para cada uma delas eu mostrei que a sua própria sabedoria e suas escrituras é a verdade a qual eu desvelei e mostrei ao mundo.
  • ·         Há duas fontes do que vem à existência: Deus e a Matéria, Luz e a Escuridão, Bem e o Mal. A Luz é a árvore que dá bons frutos. A Matéria é uma árvore que dá maus frutos.





Os mandamentos maniqueístas:


  • ·         Não adorar nenhum ídolo;
  • ·         Purificar o que sai da boca: não praguejar, não mentir, não levantar falso testemunho ou caluniar;
  • ·         Purificar o que entra pela boca: não comer carne, nem ingerir álcool;
  • ·         Venerar as mensagens divinas;
  • ·         Ser fiel ao seu cônjuge e manter a continência sexual, especialmente durante os jejuns;
  • ·         Auxiliar e consolar aqueles que sofrem;
  • ·         Evitar os falsos profetas;
  • ·         Não assustar, ferir, atormentar ou matar animais;
  • ·         Não roubar nem cometer fraude;
  • ·         Não praticar nenhuma magia ou feitiçaria;
  
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fernando Pessoa e Maçonaria

Fernando Pessoa - por interlúdio
Fernando Pessoa - por interlúdio
Este é um trecho do artigo que Fernando Pessoa publicou no Diário de Lisboa, número  4.388 de 4 de fevereiro de 1935, contra o projeto de lei, do deputado José Cabral, proibindo o funcionamento das associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização.
Fernando Pessoa como definido na Wikipédia:

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.

É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".

Por ter sido educado na África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para inglês.

Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, autodenominou-se um "drama em gente".


“A Maçonaria compõem-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal e o elemento que chamarei de humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura e o que resulta de ela existir em diversos países, sujeita, portanto a diversas circunstâncias de meio e de momento histórico, perante as quais, de país para país e de época para época reage, quanto à atitude social, diferentemente.

Nos primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçônico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como, aliás, toda organização humana, secreta ou não, – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa.

Oswald Wirth
Arthur Edward Waite
Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só idéia – a “tolerância”, isto é o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isto a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama “doutrina maçônica” são opiniões individuais de maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre suas relações com o mundo profano. São divertidíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth, até o misticismo cristão de Arthur Edward Waite, ambos tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. 

Antimaçonaria
Antimaçonaria
Ora, o primeiro erro dos antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçônico em geral pelas afirmações de maçons particulares, escolhidas ordinariamente e com grande má fé.

O segundo erro dos antimaçons consiste em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua ação social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afetam a Maçonaria como afetam toda a gente. A sua ação social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais de uma em virtude de divergências doutrinárias – as que provocam a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui que nenhum ato político ocasional de nenhuma Obediência pode ser  levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou.
 

 

Resulta de tudo isto que todas as campanhas antimaçônicas – baseadas nesta dupla confusão do particular com o geral e do ocasional com o permanente – estão absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. 

Por esse critério – o de avaliar uma instituição pelos seus atos ocasionais porventura infelizes, ou um homem por seus lapsos ou erros ocasionais – que haveria neste mundo senão abominação? Quer o Sr. José Cabral que se avaliem os papas por Rodrigo Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se considere a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo espírito pelas torturas dos inquisidores (provenientes de uso profano do templo) ou pelos massacres dos albigenses e dos piemonteses? E, contudo com muito mais razão se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas com ordem ou com consentimento dos papas, obrigando assim, espiritualmente, a Igreja inteira.”
Frederico II - por El Bibliomata
Sejamos, ao menos, justos. Se debitamos à Maçonaria em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos recebido em iguais condições. Beijem-lhe os jesuítas as mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia, no século dezoito – quando expulsos de toda a parte, os repudiava o próprio Papa – pelo Maçom Frederico II. 
Agradeçamos-lhe a vitória de Waterloo, pois que Wellinton e Blucher eram ambos Maçons. Sejamos-lhe gratos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assentar a futura vitória dos Aliados – a "Entente Cordiale", obra do Maçom Eduardo VII. Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maçonaria a maior obra da literatura moderna – o "Fausto" do Maçom Goeth.
 
Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a Antimaçonaria àqueles Antimaçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusalém.” 


Fernando Pessoa.


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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Paracelso


Abordaremos neste artigo uma personalidade a respeito da qual os especialistas e estudiosos ainda não conseguiram chegar a um consenso.

Para alguns, um brilhante cientista, modernista, fundador da bioquímica, reformador do conceito de medicamento, além de químico respeitável e contemporâneo de ícones reformadores como Andreas Vesalius, Nicolau Copérnico e Georgius Agricola.

Para outros, o produtor de um trabalho não científico, fantástico e na fronteira com a loucura.

Paracelso - por Paola.Natalia58
Paracelso - por Paola.Natalia58
Falamos de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hoheinheim, que se tornou conhecido para o mundo pelo pseudônimo Paracelso.

Paracelso nasceu no dia 17 de dezembro de 1.493, em Ensiedeln, na Suíça, sendo educado por seu pai, um alquimista e médico, que acompanhava pelas andanças por povoados e aprendia com a manipulação de medicamentos realizada pelo pai.

Alcançando a juventude, mandado para o mosteiro de Santo André, onde foi educado por diversas personalidades da cultura da época, encabeçados pelo grande alquimista Eberhardt Baumgartner. Após dezesseis anos no mosteiro, foi enviado para a Universidade de Basael, sendo orientado a partir de então por Johann Trithemius, um dos maiores intelectuais da época.

Paracelso formou-se em Medicina na Universidade de Viena em 1510, quando tinha dezessete anos. Especula-se que ele tenha feito o seu doutorado na Universidade de Ferrara.

Este homem não se satisfez com os conhecimentos tradicionais emanados das fontes reconhecidas e, assim, passou a viajar por todo o mundo conhecido em busca de alquimistas com os quais pudesse algo aprender.

Gengis Khan - por Renancab.
Gengis Khan - por Renancab
Conta-se que chegou mesmo a curar o filho do Grande Khan.

No retorno de Paracelso à Europa, seus conhecimentos em tratamentos médicos tornaram-no famoso. Ele não seguia os tratamentos convencionais para feridas, que consistiam em derramar óleo fervente sobre elas; se as feridas estivessem em um membro (braço ou perna), esperava-se que elas ficassem em gangrena para então amputar o membro afetado. Paracelso acreditava que as feridas se curariam sozinhas se o pus fosse evacuado e a infecção fosse evitada.

Ele rejeitava as tradições gnósticas, mas manteve muitas das filosofias do Hermetismo(veja nosso artigo a respeito, clicando em "As sete leis herméticas"), do neoplatonismo e de Pitágoras (sobre Pitágoras, leia o artigo "Os pitagóricos"). 

Em particular, Paracelso rejeitava as teorias mágicas de Agrippa (leia o artigo "Cornelius Agrippa"), que também foi discípulo de Trithemius, e Flamel. Ele não se achava um mago e desprezava aqueles que achavam que fosse.
Astrologia - por MC
Astrologia - por MC

Como muitos dos então cientistas da Europa, Paracelso foi astrólogo e considerava a astrologia como parte crucial para a Medicina, pelo que se empenhou em publicações que explicavam exaustivamente o uso de talismãs astrológicos no tratamento de doenças, chegando mesmo a produzi-los.

A distinta natureza da filosofia de Paracelso é conseqüência da visão cosmológica, teológica, filosofia natural e medicina à luz de analogias e correspondências entre macrocosmos e microcosmos. As especulações acerca dessas analogias tinham seriamente empenhado a mente humana desde o tempo pré-socrático e Platônico e durante toda a Idade Média. Paracelso foi o primeiro a aplicar essas especulações para o conhecimento da natureza sistemática.

Isso associado com a singular posição que ele assume no que diz respeito à teoria e à prática de aquisição de conhecimentos em geral, quebrou longe do ordinário lógico, antigo e medieval e moderno, seguindo as suas próprias linhas, e é nisto que muito do seu trabalho naturalista encontra explicação e motivação.

Paracelso desenvolveu uma interessante teoria para explicar a forma mais coerente e eficaz de aquisição de conhecimento: Esta se daria não pela consideração dos objetos e fatos com a mente racional, mas sim pela “união” com o objeto. Esta união seria o soberano meio de adquirir conhecimento íntimo e total.

O lastro desta teoria estava na consideração do Homem como clímax da criação, que, portanto, reuniria em si todas as outras coisas, viabilizando o que chamava de “união”.

O que parece ser original em Paracelso, então, não é a teoria microcósmica em si mesma, nem a busca da união com o objeto, mas o emprego consistente desses conceitos como a ampla base de um elaborado sistema de correspondências na filosofia e medicina natural.

Elixir - por Luvnish
Faleceu em 24 de setembro de 1541 com apenas 47 anos, em um hospital, sonhando ter fabricado o Elixir da Vida. A causa de sua morte não foi esclarecida. Uma hipótese é que teria sido assassinato em 1541, como foi evidenciado na exumação de seus ossos, que mostrou uma fratura no crânio. O corpo foi velado na igreja de São Sebastião e, de acordo com o seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.

A fama de Paracelso aumentou com as suas curas milagrosas e, após sua morte, a sua fama cresceu ainda mais. Um século depois, centenas de textos paracelsianos foram publicados, referindo-se quase todos a medicamentos químicos. No final do século XVI, existia já uma imensa literatura sobre a nova matéria médica. Devido ao fato de a abordagem médica de Paracelso diferir tanto daquilo que era aceitável até então, estabeleceu-se uma enorme confrontação entre os paracelsianos e o sistema médico oficial em vigor até então, confrontação aguçada pelo impacto provocado pelos humanistas, que desdenhavam das obras de Dioscorides e de Plínio, ambos muito populares no final da Idade Média, e enalteciam trabalhos menos conhecidos, especialmente os tratados de fisiologia e anatomia de Galeno. Muitos médicos seguidores de Paracelso eram alemães; na França, a confrontação foi mais agravada pelo fato de muitos médicos paracelsianos serem huguenotes (protestantes, partidários de Calvino); na Inglaterra, tal confrontação foi menos tempestuosa, tendo sido adotados os medicamentos químicos, que eram utilizados simultaneamente com medicamentos tradicionais galênicos.

Você encontra maiores informações a respeito de Paracelso neste link.

Sobre alquimia, leia:



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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Regularidade Maçônica

Nosso leitor Ribamar Araújo sugeriu um artigo a respeito do que chamou de “Irregularidade Maçônica”, que, diga-se de passagem, recebeu alguns votos como matéria que nossos usuários gostariam que fosse publicada.
 
Pois bem: Temos em nosso meio diversas pessoas que não fazem parte da Ordem Maçônica, pelo que, abordar este tema merece cuidado em diversos sentidos.
 

Inicialmente é bom ressaltar que regularidade e reconhecimento maçônico são conceitos que não se confundem, embora estejam bastante próximos.
 

Regularidade é a prática de atos e rituais em conformidade com a legislação maçônica e com os princípios da organização como um todo.
 

Reconhecimento, por seu turno, é a identificação por organismos maçônicos daquela mesma loja que acima mencionamos como praticante da verdadeira Maçonaria.
 

Assim, uma loja, por exemplo pode ser regular, embora não seja reconhecida, mas não pode ser reconhecida se for irregular.
 

A implicação principal do reconhecimento e da regularidade maçônicas de indivíduos, lojas e organismos maiores que se autodenominam “Maçonaria” está no exercício dos direitos maçônicos por seus membros, que, iniciados em organizações ditas espúrias, não podem ser reconhecidos como maçons verdadeiros.
 

Este mesmo raciocínio se aplica tanto para o todo como para o individual (“como é em cima é como o que está embaixo, assim como o que está embaixo é como o que está em cima”).
 

Uma organização maçônica maior do que meramente uma loja pode até mesmo praticar a Maçonaria regular, mas não necessariamente será reconhecida pelas demais organizações.
 

Da mesma forma, um maçom devidamente iniciado em uma loja regular e reconhecida por osmose recebe estas características (reconhecimento e regularidade), ao menos enquanto portar-se convenientemente e cumprir com todas as suas obrigações.
 

Portando-se indevidamente, o maçom poderá estar sujeito aos tribunais maçônicos e não maçônicos, que o irão sancionar pelos seus atos e inclusive poderão expulsá-lo da Ordem, tornando-o irregular.
 

Cametá VII - por Dr. Gori
Cametá VII - por Dr. Gori
Deixando de cumprir com suas obrigações, o maçom igualmente poderá ser tido como irregular, sempre por provocação de sua loja.
 

Estando irregular, seja por comportamento impróprio, seja por falta de cumprimento de deveres, o maçom imediatamente não mais pode ser reconhecido como tal por seus pares, perdendo o direito de visitação de lojas regulares e reconhecidas em todo o mundo, até que sane as pendências a ele relacionadas, quando possível fazê-lo.
 

Chamemo-lo de “irmão”, pois que o conceito de fraternidade maçônica estende-se a toda a humanidade, mas não o chamemos de “maçom”.



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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cornelius Agrippa

Henrich Cornelius Agrippa - por qeaegypt
Henrich Cornelius Agrippa - por qeaegypt


Nascido em 14 de setembro de 1.486 e morto no dia 18 de fevereiro de 1.535, Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim, conhecido como “Cornelius Agrippa” viu-se muitas vezes denunciado como perigoso e herético, considerando seus posicionamentos pouco ortodoxos para seu tempo.

Dentre seus postulados, em 1.529 escreveu “De Nobilitate e Praecellentia Foeminei Sexus” (numa tradução livre – “O nascimento de excelência do sexo feminino”), no qual afirmava que o sexo feminino não era apenas igual ao masculino, mas superior a ele.

Tumba de Maximiliano I - por José Luis Roldán
Tumba de Maximiliano I - por José Luis Roldán
O Sacro Imperador Romano Maximiliano I (Wiener Neustadt, 22 de março de 1459 - Wels, 12 de janeiro de 1519) teve este expoente de seu tempo aos seus serviços, permitindo-lhe os estudos das assim chamadas ciências ocultas, dentre elas magia, ocultismo, alquimia e astrologia.

“Cornelius Agrippa”,  para que fique clara sua importância à época, foi citado por Mary Shelley em “Frankenstein”, e no conto “O Mortal Imortal” surge como uma das personagens.
 

É intrigante como este autor assumiu posições tão antagônicas. Inicialmente muito crédulo em relação à magia, alquimia e astrologia, e posteriormente um grande cético, incluindo em relação ao seu próprio trabalho mágico.
 

 

Cornelius Agrippa” fornece uma demonstração clara da grande agitação intelectual que se tinha apoderado dos humanistas da Renascença, ao recuperarem as obras dos antigos. Isto incluía não apenas os autores clássicos considerados "respeitáveis" pelos modernos, mas também um vasto corpo de antigos (ou pseudo-antigos) textos que alegadamente ofereciam a sabedoria das origens, de uma alegada civilização humana chamada prisca theologia. Eram textos herméticos do antigo Egito, Oráculos Caldeus, escritos de Zaratustra, ensinamentos atribuídos a Pitágoras e supostamente repassado dele para Platão e seus seguidores. Agrippa foi um dos principais especialistas de seu século sobre este tipo espiritual e teosófico da sabedoria antiga.
 

Three books of occult philosophi - por Miller Info Commons
Three books of occult philosophi - por Miller Info Commons
Sua obra “De occulta philosophia libri três” é tida como a mais abrangente sobre magia e artes ocultas. Tratam-se, na verdade de três livros, que abrangem assuntos como os quatro elementos, astrologia, cabala, números, anjos, nomes dos deuses, virtudes, relacionamentos e seus usos e leis da medicina, além de também versarem sobre cerimônias e origens do que são verdadeiramente o Hebreu, o Grego e o Caldeu. Você encontra este livro, clicando aqui.


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