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sábado, 5 de novembro de 2011

Zoroastro



Zoroastro - por História
Zoroastro - por História
Zoroastro (ou Zaratustra) nasceu na Pérsia (atualmente Irã) por volta da metade do século VII antes da Era Cristã. Foi o fundador do Masdeísmo (ou Zoroastrismo), religião que foi adotada oficialmente entre 558 e 330 a.C. pelos Aquemênidas[1].
Conta a história que há muito tempo, nas estepes próximas ao Mar de Aral, no sexto dia da primavera, nasceu na família Spitama um menino que foi chamado de Zaratustra, que, ao nascer, ao invés de chorar riu ruidosamente, causando grande admiração nas parteiras.
Um dos sacerdotes da vila, percebendo que Zaratustra seria um revolucionário do pensamento humano e que reduziria o poder sacerdotal, procurou pelo pai da criança dizendo: "Pourushaspa Spitama, vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!"
Em razão da fala do sacerdote, no dia seguinte o pai de Zaratustra montou uma grande fogueira, colocando seu filho no meio das chamas, mas ele não sofreu qualquer dano.
Por conta disto, o menino foi levado para um estreito vale, sendo colocado no caminho de uma manada de mais de mil cabeças de gado para que morresse pisoteado. No entanto, o primeiro dos bois, percebendo a presença da criança, colocou-se sobre ele, impedindo que os demais o atingissem.
Ainda uma terceira tentativa de extermínio de Zaratustra foi tramada pelo sacerdote, que o colocou na toca de uma loba raivosa para ser devorado. No entanto, a loba cuidou da criança até que sua mãe, Dugdav, o viesse buscar.
Já crescido, Zaratustra estava um dia meditando à beira de um rio, quando foi abordado por um estranho, indescritível tamanha sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou quem era e o estranho respondeu: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim lhe buscar".
Vohu Mano tomou Zaratustra pela mão e o levou a um lindo lugar, onde outras sete entidades o aguardavam.
Nessa ocasião Vohu Mano disse para Zaratustra: "Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.
Zaratustra ficou confuso e não compreendia o motivo de haver sido escolhido, já que não tinha recursos ou poder. No entanto, os sete outros seres que ali estavam em coro disseram: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações".
Retornando para sua aldeia, Zaratustra a todos contou o que havia acontecido. Sua família aceitou a revelação, mas os sacerdotes, sentindo-se grandemente ameaçados, resolveram acabar com a vida do rapaz, que, percebendo o perigo que corria com sua “boa mente”, reuniu seus 22 companheiros e companheiras e fugiu com tudo o que tinha.
Após várias semanas de viagem, chegaram a um lugar governado por Vishtaspa, com quem Zaratustra partilhou sua descoberta. Vishtaspa, entretanto, recusou-se a aceitar as revelações de seu interlocutor, que durante dois anos tentou convencê-lo, durante os quais passou por diversas oposições e perseguições, chegando a ser preso por algum tempo.
No entanto, certo dia adoeceu o cavalo do governante, que convocou todos os sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o animal da morte. Estes de tudo tentaram, incluindo sacrifícios de outros cavalos, sem qualquer resultado.
Zaratustra, nascido em meio rural, percebeu que o cavalo estava envenenado e recomendou ao governante o uso de um medicamento que conhecia de sua terra. Relutante, mas sem saída, Vishtaspa aceitou o remédio, que acabou por curar o animal em dois dias.
O povo atribuiu a Zaratustra um ato milagroso, mas este esclareceu o governante que apenas havia usado de conhecimento adquirido em sua vila.
A franqueza e a verdade encantaram o governante e sua família, que se dispuseram a ouvir Zaratustra de mente e coração abertos, pelo que se converteram à nova religião, sendo iniciados, como grande parte de seu povo.
Ainda conta a história que dos 20 aos 30 anos, Zaratustra viveu em cavernas de altas montanhas. Não ingeria nenhum alimento de origem animal. Teria também vivido no deserto, onde o demônio o teria tentado, sem êxito.
Após sete anos de completa solidão, retornou ao seu povo e com 30 anos recebeu a revelação divina, via sete visões ou ideias.
Iniciou sua pregação aos 30 anos e durante 10 anos apenas conseguiu converter seu primo.
Aos 40, consegue a conversão do governante Vishtaspa, que iniciou uma grande reforma religiosa no país, chegando o Masdeísmo a ser a religião oficial da Pérsia.
Zaratustra teria morrido assassinado aos 77 anos, quando rezava no templo diante do fogo sagrado.
A doutrina Masdeísta admite que antes do mundo existir haviam duas forças antagônicas: os espíritos do bem (Ahura Mazda, Spenta Mainyu, ou Ormuz) e do mal (Angra Mainyu ou Arimã). Entre as diversas divindades auxiliares de Ormuz, a mais importante era Mithra, que exercia as funções de juiz das almas. No final do século III d. C., a religião de Mithra fundiu-se com cultos solares orientais, configurando-se no culto ao Sol (veja o artigo “O Sol nos mitos, religiões e Maçonaria).
Arimã (a força do mal) é representado por uma serpente (coincidência com a narrativa bíblica?).
Ahura Mazda (a força do bem) é representado também como um lavrador, demonstrando o enraizamento do culto na civilização agrícola.
Os principais mandamentos da doutrina Masdeísta são: falar a verdade, cumprir com o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar o outro da mesma forma que deseja ser tratado. Por isso, a regra de ouro do Masdeísmo é: "Age como gostarias que agissem contigo".

Entre as condutas proibidas destacavam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros a um integrante da religião era considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.

As virtudes como justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual e, consequentemente, coletivo. A comunidade somente pode surgir quando o indivíduo se vê como autônomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento harmonioso com os outros seres.

Por isso, eram incentivadas as virtudes econômicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão, semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o pobre e ser hospitaleiros.

A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si, jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o fato de essas práticas prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos.

A adoração a Ahura Mazda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, erguidos geralmente em lugares elevados das montanhas, onde se faziam oferendas. Os magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os cultos – são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria enviado a Israel sacerdotes do Zoroastrismo, que seguiram uma estrela até Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias.

Zaratustra transmitira, aos magos e adeptos, os segredos e a verdade suprema que lhe foram revelados por Ahura Mazda por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, também no zoroastrismo a revelação divina é elemento essencial.

A religião Masdeísta diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem–Mal, mas também pelo caráter escatológico. Entre os seus dogmas, estão a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e o seu julgamento.


Conforme os seus méritos ou pecados, elas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas ficavam expostos em altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição, secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Desse modo, Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história por ter erigido um sistema de religiosa desenvolvido e estruturado.

Enquanto religião ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de seu povo a fim de erradicar o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia. Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada. Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos.




Templo do fogo Parsi - por Ramesh_Iaiwani
Templo do fogo Parsi - por Ramesh_Iaiwani
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Seu monoteísmo influenciou as doutrinas Judaica, Cristã e Islâmica. Após o domínio Islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde foi estabelecida a comunidade Parsi[2]. No Irã, permanece ainda a comunidade Zardushti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo) não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos. Na atualidade há uma maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos casamentos realizados entre etnias distintas.



[1] A dinastia aquemênida, também designada de Acménida, acamênida, etc, governou a Pérsia em seu primeiro período monárquico independente. Sua linhagem remonta ao rei Aquêmenes da Pérsia, na verdade, um governante tributário ao reino da Média no século VII a.C.
Os aquemênidas viram seu apogeu sob o governo de Ciro II da Pérsia, bisneto de Aquêmenes, quando este subjugou a Média e todas as outras tribos arianas da área do atual Irã, e conquistou a Lídia, a Síria, a Babilônia, a Palestina, a Armênia e o Turquestão, fundando o Império Persa. As conquistas foram levadas adiante por seu filho Cambisses II, que conquistou o Egito, e Dario I, que expandiu o poderio persa pela Europa, conquistando a Trácia e consolidando seu poder na Anatólia. Neste primeiro período, os governantes Aquemênidas caracterizaram sua administração pela tolerância com as diferentes culturas e religiões dos povos conquistados, gerando uma lealdade sem precedentes entre seus súditos. Também construíram estradas ligando as principais cidades, e um sistema de correios eficiente. As estradas também se destinavam ao comércio do Egito e da Europa com a Índia e a China, do qual a Pérsia se beneficiou grandemente.

[2] Parsis são um grupo étnico-religioso do Subcontinente Indiano. Eles formam a maior das duas populações praticantes do Zoroastrismo na região – a outra é a comunidade dos iranis.
Os Parsis emigraram do Irã para a Índia e o Paquistão no século X, fugindo de perseguição muçulmana, tendo perdido muitos de seus laços culturais originais.
Freddie Mercury e Zubin Mehta são indivíduos famosos com ascendência parsi.

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