Como a religião cristã foi feita
de perseguida a preferida do Império Romano.
O Cristianismo Primitivo, ou Era
Apostólica, foi um período da evolução religiosa, ocorrido entre os séculos I e
III da Era Cristã, iniciado após a ressurreição de Cristo (30 d. C.) e
terminado com o Concílio de Nicéia, no ano 325.
A regra de fé dos antigos
cristãos era o Antigo Testamento . Foi nesse período que o cânon[1]
do Novo Testamento foi desenvolvido, com as cartas de Paulo, os quatro evangelhos,
e várias outras obras dos seguidores de Jesus que também foram reconhecidas
como Escrituras Sagradas. Das cartas de Paulo,
especialmente a de Romanos, os cristãos criaram uma teologia
baseada na obra expiatória de Cristo e na Justificação pela Fé. Essa teologia objetivava
explicar todo o significado e os objetivos da Lei Mosaica[2].
A relação de Paulo de Tarso e o Judaísmo é ainda hoje objeto de debates entre
os cristãos protestantes, principalmente no que se refere a alteração do dia de
descanso do sábado
para o domingo.
Os pais da igreja desenvolveram a teologia cristã e as bases para a doutrina da
Trindade[3].
No período do Cristianismo
Primitivo, os cristãos foram largamente perseguidos, de um lado por se negarem
a aceitar os deuses romanos (veja um pouco a respeito do paganismo no artigo “O
Sol nos mitos, religiões e Maçonaria”) e não aceitarem a divindade dos imperadores
e de outro lado por divergências conceituais e teológicas, ainda que pequenas
pela inexistência dos textos do Novo Testamento, com as crenças judaicas.
A história, os livros e filmes
narram os martírios de diversos cristãos, vários crucificados e inúmeros
jogados aos leões e escravizados.
Estas perseguições tiveram fim
com o advento do Édito de Milão[4],
promulgado pelo Imperador Constantino I, tetrarca[5]
Ocidental e por Licínio, tetrarca Oriental.
Constantino - por Kapashi |
Constantino I, por razões
políticas, afirmou ter se convertido ao Cristianismo.
A Igreja Cristã da época tinha
grande força no Oriente, que era governado pelo tetrarca Licínio, rival de
Constantino I na dominação do poder total do Império Romano, que tinha grande
asco aos cristãos.
Constantino, aproveitando-se
disto, montou a versão que tornaria oficial: Mandou sua mãe Helena, descendente
de cristãos, para a Jerusalém. Helena teria, mais de trezentos anos após a
morte de Cristo, encontrado não somente a cruz onde o Seu corpo foi pregado,
como também o local de Seu sepultamento, onde mandou erigir a Igreja do Santo
Sepulcro, substituindo o Templo de Afrodite que havia sido construído no local.
Sob o argumento da localização da
“Vera Cruz” e do local do sepultamento do corpo de Cristo por Helena,
Constantino I declarou-se convertido à fé cristã, com isto conquistando grande
apoio popular, religioso e político no Oriente governado por Licínio.
Este foi o lastro que faltava
para que Constantino I marchasse contra Licínio e o vencesse, estabelecendo-se
como único governante do Império Romano no ano de 324.
No ano seguinte, Constantino I
convocou o primeiro concílio da Igreja, realizado na cidade de Nicéia (atual İznik, Turquia), que
presidiu.
Neste concílio inúmeras questões
foram tratadas, dentre elas a “controvérsia ariana”[6].
O “arianismo” tomou este nome por
conta de um de seus maiores defensores, Ário[7],
que pregava, com grande repercussão e apoio na época, os seguintes pontos
doutrinários:
- Que o Logos e o Pai não eram da mesma essência;
- Que o Filho era uma criação do Pai;
- Que houve um tempo em que o Filho (ainda) não existia.
Estes ditames levavam obrigatoriamente à
conceituação de Jesus como a mais perfeita criação de Deus, mas não como parte
Dele.
A controvérsia foi quase sanada com o
Concílio de Nicéia, como dito presidido pelo Imperador Constantino I, que
claramente assumia posicionamento contrário ao “arianismo”, quando os bispos
presentes decidiram a questão da divindade de Cristo por votação.
A votação final, quanto ao
reconhecimento da divindade de Cristo, foi um total de 300 votos a favor contra
dois desfavoráveis. A doutrina de Ario foi anatematizada e os dois bispos que
votaram contra e mantiveram sua posição contrariando a posição do concílio
foram exilados pelo imperador.
Foi a realização deste concílio,
presidido pelo imperador romano, com transportes e hospedagens imperiais para
os bispos participantes e realizado na estrutura do palácio imperial, que
definitivamente uniu os interesses do Império Romano aos da Igreja.
Quanto a Constantino I e sua pretensa
conversão, é bom que se ressalte que este nunca participou de qualquer ato
litúrgico, como missa ou eucaristia e apenas foi batizado no leito de morte.
Qualquer que tenha sido a fé individual
de Constantino, o fato é que ele educou seus filhos no cristianismo, associou a
sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença institucional no Estado romano
(a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, a episcopalis audientia,
podia ser escolhida pelas partes de um processo como tribunal arbitral em lugar
do tribunal da cidade). E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do
início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os
pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de
uma velha superstição".
[1] Um
cânone ou cânon normalmente se caracteriza como um conjunto de
regras (ou, frequentemente, como um conjunto de modelos) sobre um
determinado assunto, em geral ligado ao mundo das artes e da arquitetura.
A canonização é a sistematização deste conjunto de modelos.
O termo deriva da palavra grega
kanon, que designa uma vara utilizada como instrumento de medida.
[2] A Lei
de Moisés é um termo usado com freqüência na Bíblia, em primeiro lugar por Josué. O termo Lei
mosaica é usado nos textos acadêmicos. A Lei mosaica é composta por um
código de leis formado por mandamentos, ordens e proibições.
[3]
A Trindade ou Santíssima Trindade é a doutrina acolhida pela maioria das
igrejas cristãs que professa a Deus único preconizado em três pessoas distintas:
o Pai,
o Filho
e o Espírito Santo.
Para os seus defensores, é
um dos dogmas
centrais da fé cristã, e considerado um mistério. Tais denominações
consideram-se monoteístas.
[4] O Édito de Milão (313 d.C.), também
referenciado como Édito da Tolerância, declarava que o Império
Romano seria neutro em relação ao credo religioso,
acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente,
especialmente do Cristianismo. O édito foi emitido pelo tetrarca
ocidental Constantino I, o grande, e por Licínio,
o tetrarca Oriental.
A aplicação do Édito
fez devolver os lugares de culto e as propriedades que tinham sido confiscadas
aos cristãos e vendidas em hasta pública: "... o mesmo será devolvido aos
cristãos sem pagamento de qualquer indenização e sem qualquer fraude ou
decepção..."
Deu ao cristianismo
(e a todas as outras religiões) o estatuto de legitimidade, comparável com o
paganismo e com efeito desestabeleceu o paganismo como a religião oficial do
império romano e dos seus exércitos.
O Édito:
"Nós, Constantino e
Licínio, Imperadores, encontrando-nos em Milão para conferenciar a respeito do
bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas benéficas à
comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação.
Pareceu-nos justo que todos, os cristãos inclusive, gozem da liberdade de
seguir o culto e a religião de sua preferência. Assim qualquer divindade que no
céu mora ser-nos-á propícia a nós e a todos nossos súditos. Decretamos,
portanto, que não, obstante a existência de anteriores instruções relativas aos
cristãos, os que optarem pela religião de Cristo sejam autorizados a abraçá-las
sem estorvo ou empecilho, e que ninguém absolutamente os impeça ou moleste... .
Observai outrossim, que também todos os demais terão garantia a livre e
irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois está de acordo com a
estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada cidadão a
liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não pretendemos negar a
consideração que merecem as religiões e seus adeptos. Outrossim, com referência
aos cristãos, ampliando normas estabelecidas já sobre os lugares de seus cultos,
é-nos grato ordenar, pela presente, que todos que compraram esses locais os
restituam aos cristãos sem qualquer pretensão a pagamento... [as igrejas
recebidas como donativo e os demais que antigamente pertenciam aos cristãos
deviam ser devolvidos. Os proprietários, porém, podiam requerer compensação.]
Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a favor dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para se possibilitar a realização de nosso propósito de instaurar a tranquilidade pública. Assim continue o favor divino, já experimentado em empreendimentos momentosíssimos, outorgando-nos o sucesso, garantia do bem comum."
[5]
Tetrarquia (do grego tetra, por derivação de tétares,
"quatro," e árchein, "governar") designa qualquer
sistema de governo em que o poder esteja dividido entre quatro indivíduos,
denominados "tetrarcas".
[6]
A Controvérsia ariana é um termo que agrupa um conjunto de controvérsias
relacionadas ao Arianismo que dividiram a Igreja cristã desde um pouco antes do Concílio de Niceia até depois do Primeiro Concílio de Constantinopla
em 381 dC. A mais importante destas controvérsias tem a ver com a relação entre
Deus Pai e
Deus Filho.
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