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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Senhora das trevas


Nas épocas primordiais da existência humana, quando o Homem ainda não havia dominado o fogo, a luz do dia possibilitava segurança, convivência, atividades laborativas e todas as atividades humanas realizadas com razoável tranquilidade.

A escuridão, contrariamente, fazia cair sobre os seres humanos o medo do desconhecido, a aproximação imperceptível de predadores e inimigos e, via de consequência, a morte.

Por derivação, o Sol (o dia) passou a representar a vida, a segurança, o conhecimento e o entendimento, enquanto a noite e seu astro, a Lua, passaram a representar o oposto (morte, desconhecimento, insegurança).

Nas religiões e em seus templos, estes significados foram representados, como discorremos no artigo “O Sol nos mitos, religiões e Maçonaria” (veja também o artigo "O Nártex").

Na antiga Grécia, a noite era personificada pela deusa Nyx, também conhecida como Eufrone e Eulalia, sobre a qual uma das melhores fontes de informação é a teogonia[1] formulada por Hesíodo[2], que descreve o nascimento dos deuses.


Nyx, deusa da noite
Nyx, deusa da noite.

Nyx (a noite) teria sido, segundo Hesíodo, a quinta criatura a surgir do vazio, depois de seus irmãos Gaia[3], Tártaro[4], Eros[5] e Érebo[6], sendo filha do Caos[7].


Patrona e cultuada por feiticeiras e bruxas, deusa dos mistérios noturnos e rainha dos astros da noite, Nyx forneceria fertilidade à terra para o nascimento das ervas encantadas.



Para as feiticeiras, Nyx teria total controle sobre a vida e a morte de homens e deuses, pelo que Homero referiu-se a ela como “A Domadora dos Homens e dos Deuses”, que a temeriam e respeitariam, inclusive Zeus.

Ainda segundo o mito, Nyx possuiria um capuz que lhe permitiria observar todo o universo sem ser notada.

Seriam filhos de Nyx: Hemera[8], Éter[9], Hespérides[10] e Hélios[11], este último adotivo. Os filhos de Nyx são a Hierarquia em poder para os Deuses, sua maioria são divindades que habita o mundo subterrâneo e representam forças indomáveis e que nenhum outro Deus poderia conter.
Importante notar que de Nyx, a deusa da noite, desposada a Érebo (a escuridão), surgiram seus filhos já mencionados, todos representando a luz.



Hemera, deusa do dia
Hemera, deusa do dia


Hemera e as Hespérides nasceram para ajudar Nyx a não se cansar, assim nasceu o ciclo diário: Hemera trás o dia (relaciona com Eos, a aurora, e Helios, o Sol) ; as Hespérides trazem a tarde, (relaciona com Selene a lua) e Nyx traz a absoluta Noite. Todas estas deidades em conjunto conduzem a dança das horas.



Nyx, sem envolvimento de seu esposo ou de qualquer outro deus, ainda seria a mãe de outros filhos, quais sejam:

  • Moros – O destino.
  • Queres – Morte em batalha.
  • Tânatos – Morte.
  • Hipnos – Sono.
  • Oniro – A legião dos sonhos.
  • Momos – Escárnio.
  • Oizus – Miséria.
  • Moiras – deusas do destino.
  • Nêmesis – deusas da retribuição.
  • Apate – Engano, fraude.
  • Filotes – Amizade.
  • Geras – Velhice.
  • Éris – Discórdia.
  • Limos – Fome.
  • Ftono – Inveja.
  • Ênio – Deusa destruidora de cidades.
  • Lissa – Loucura.
  • Caronte – Barqueiro que conduz ao mundo dos mortos.
A maior parte dos outros descendentes da Deusa nada mais são que conceitos e abstrações personificados; sua importância nos mitos é muito variável. Na tradição Órfica, todo universo e demais Deuses primais nasceram do Ovo Cósmico de Nyx. Certos poetas a consideram como mãe de Urano e de Gaia; Hesíodo deu-lhe o posto de Mãe dos Deuses, porque sempre se acreditou que a Nyx e Érebo haviam precedido a todas as coisas.



Zeus - por spectergeneral
Zeus - por spectergeneral



Nyx seria também uma Deusa da Morte, a primeira rainha do mundo das Trevas. Nyx também tinha dons proféticos, e foi ela quem criou a arma que Gaia entregou a Cronos para destronar Urano. Nyx conhecia o segredo da imortalidade dos Deuses podendo tirá-la e transformar um Deus em mortal, como ela fez com Cronos, após este ser destronado por Zeus.





[1] Teogonia (em grego, Θεογονία [theos, deus + genea, origem]), também conhecida por Genealogia dos Deuses, é um poema mitológico em 1022 versos hexâmetros escrito por Hesíodo no séc. VIII a.C., no qual o narrador é o próprio poeta.
O poema se constitui no mito cosmogônico (descrição da origem do mundo) dos gregos, que se desenvolve com geração sucessiva dos deuses, e na parte final, com o envolvimento destes com os homens originando assim os heróis.
Nesse mito, as deidades representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza humana, expressando assim as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição do universo.

[2] Hesíodo (em grego: Ἡσίοδος, transl. Hēsíodos) foi um poeta da Grécia Antiga. Nasceu, viveu e faleceu em Ascra, no fim do século VIII a.C..

[3] Gaia, Géia, Gea ou era a titânide (ou titanesa) da Terra, a Mãe Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora quase absurda.


Deus Tártaro




[4] As trevas abismais. Tártaro é personificado por um dos deuses primordiais, nascidos a partir do Caos(apesar de alguns autores o considerarem irmão de Caos). Suas relações com Gaia geraram as mais terríveis bestas da mitologia grega, entre elas o poderoso Tifão.



[5] Eros (em grego Ἔρως; no panteão romano Cupido) era o deus grego do amor.

[6] A escuridão.

[7] Caos (do grego Χάος, transl. khaos) é, segundo Hesíodo, a primeira divindade a surgir no universo, portanto o mais velho dos deuses. A natureza divina de Caos é de difícil entendimento, devido às mudanças que a ideia de "caos" sofreu com o passar das épocas.
Inicialmente descrito como o ar que preenchia o espaço entre o Éter e a Terra, mais tarde passou a ser visto como a mistura primordial dos elementos. Seu nome deriva do verbo grego χαίνω, que significa "separar, ser amplo", significando o espaço vazio primordial.

[8] Na mitologia grega, Hemera – filha de Nix (a noite) com Erebo (deus da escuridão) – era a personificação do dia (a deusa é interligada ao fato mitológico de poder ter sido a primeira deusa a representar o sol). Teve um romance com seu irmão Éter e com ele teve uma filha, Tálassa. Unida a este, também gerou seres não antropomorfizados: Tristeza, Cólera, Mentira, etc. A lista de Higino atribui-lhe como filhos: Oceanus, Têmis, Briareu, Giges, Estérope, Atlas, Hipérion, Saturno (Pierre Grimal coloca a versão latina ao invés de Cronos), Moneta, Dione e as três Fúrias. Hemera personificava a luz do dia e o ciclo da manhã. Nasceu junto de Ether e das Hespérides. Era personificação do dia como divindade feminina.

[9] Luz celeste.

[10] As três deusas Hespérides, personificam a luz da tarde e o ciclo do entardecer. Segundo Hesíodo, são filhas de Nix (a noite) e Érebo (a escuridão).

[11] Hélio (em grego: Ἥλιος, "Sol", latinizado como Helius) é a personificação do Sol na mitologia grega. Hélio é notavelmente diferente de Apolo, que é também um deus solar.

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