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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Destino e fatalidade


A concepção tradicional de destino envolve uma sucessão de fatos predeterminados, com um resultado de igual forma anteriormente estipulado, que atinge a vida humana de maneira inevitável.

Em regra, portanto, a idéia do destino está relacionada à manipulação ou condução dos eventos e fatos de todas as vidas humanas por uma ou mais divindades ou entes superiores, de conformidade com uma planificação anterior, para que um ou mais resultados muito específicos sejam alcançados.

O conceito do destino é bastante antigo e, como exemplo, mencionamos as Moiras[1] na mitologia grega. No entanto, a concepção de uma rota e destino previamente traçados, dos quais não podemos nos desviar também está presente em correntes filosóficas, como o fatalismo[2].

A idéia de maior conflitância com o destino é a do livre-arbítrio.

O livre-arbítrio é uma concepção filosófica ou crença segundo a qual os indivíduos, escolhendo livremente suas ações, dão o rumo que melhor entenderem adequado às suas vidas, sem qualquer influência de divindades nas escolhas, nas rotas ou nos destinos escolhidos.

Quando avaliamos estes dois grandes e antagônicos entendimentos, verificamos que não raramente o primeiro (destino) é adotado por pessoas que preferem uma postura de total dependência e pouca atividade.




Destino - por alinatrilok
Destino - por alinatrilok
Se de um lado a idéia do destino nos assegura, por pressuposição da existência da divindade, proximidade com o Criador, por outro nos limita à condição de marionete desprovida de vontade, ou pior: possuindo-a, simplesmente não a exerce por compreender que impossível agir contra o que pensa ser a “vontade de Deus” ou “destino”.

A idéia de um destino absoluto também nos proporciona um grande conforto, que é a sensação de total e irrestrita falta de responsabilidade para com todos e quaisquer fatos, etapas e resultados em nossas vidas, o que, pensamos que se de um lado é altamente reconfortante, de outro é um grande erro e enorme risco.


Livre-arbítrio - por Anita Cezarita
Livre-arbítrio - por Anita Cezarita

O livre-arbítrio, por seu turno, impregna-nos com uma sensação de completa dominância em relação a tudo o que ocorre em nossa existência, afastando a idéia de destino e com igual veemência a de coincidência.

Se de um lado os defensores do livre-arbítrio tem por norma de conduta uma maior responsabilidade para com a existência e as relações, de outro adquirem uma corriqueira sensação de solidão, desamparo e eventualmente desapego para com o Criador.

Interessante, portanto, que tanto para os partidários do destino quando para os do livre-arbítrio não existem coincidências. Para os primeiros tudo depende de um plano previamente estabelecido, aprovado e em execução, inexistindo espaço para o acaso. Esta também é a conclusão a que chegam seus contendores, embora por motivação diversa, qual seja, que todos os fatos e eventos de nossas vidas ocorrem por nossa decisão pessoal e esforço.

Entendimentos radicais relacionados ao destino e ao livre-arbítrio podem ter estreita relação com compreensões deísta ou teísta da existência, pelo que pode ser interessante ler os artigos de nome “Deísmo X Teísmo” – parte 1 e parte 2.

A liberdade de pensar conquistada pela humanidade no seu caminhar, à custa de inúmeras mortes, guerras, perseguições e inquisições, garantiu interpretações divergentes dos destino e livre-arbítrio puros.

Para alguns, as pessoas nascem com missões a serem cumpridas neste plano, pelo que certas circunstâncias como momento e circunstâncias do nascimento e morte, por exemplo, seriam ditadas pelo destino, mas o livre-arbítrio seria o regente das demais fases da existência.

Para outros, como nós, o destino é ditado pelo livre-arbítrio, ou seja, considerando que para toda ação existe uma reação, nossas opções e decisões durante a vida obrigatoriamente gerarão resultados definidos pelas circunstâncias gerais daquilo que decidimos fazer durante a vida.

Neste diapasão, o destino passa a ser mutável, uma vez que, quando verdadeiramente estamos conscientes de nossas opções, temos a faculdade de alterá-las conforme nossa vontade e os fatores que nos cercarem na ocasião, alterando seus efeitos.

Destino existe? Que acham amigos?


[1] Na mitologia grega, as Moiras (em grego antigo Μοῖραι) eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as Erínias. Pertenciam à primeira geração divina (os deuses primordiais), e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens.
As Moiras eram filhas de Nix (ou de Zeus e Têmis). Moira, no singular, era inicialmente o destino. Na Ilíada, representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. Na Odisseia aparecem as fiandeiras.
O mito grego predominou entre os romanos a tal ponto que os nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Décima e Morta, que tinham respectivamente as funções de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento e desenvolvimento, e o final da vida; a morte; notar entretanto, que essa regência era apenas sobre os humanos.
Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como donzelas de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas. As Moiras eram:
  • Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécata, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos.
  • Láquesis (Λάχεσις; láchesis) grego significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tique, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida.
  • Átropos (Ἄτροπος; átropos) em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida, Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida.

[2] Em Filosofia, o fatalismo é a concepção que considera serem o mundo e os acontecimentos produzidos de modo irrevogável. E também a crença de que uma ordem cósmica, dita Logos, preside a vida cotidiana. Mas, em geral, é uma corrente aceita por quem toma de modo passivo os eventos, não tendo a crença de que pode exercer um papel na sua modificação. É, assim, uma doutrina que afirma que todos os acontecimentos ocorrem de acordo com um destino fixo e inexorável, não controlado ou influenciado pela vontade humana e que, embora aceite um poder sobrenatural preexistente, não recorre a nenhuma ordem natural , recusando, assim, a predestinação. Também costuma ser confundido com determinismo. Exerceu influência, especialmente, sobre os antigos hebreus e alguns pensadores gregos.
A cultura grega antiga é em grande parte fatalista e mitos, como o de Moire, nos indicam tal. O fatalismo está presente também no estoicismo grego e romano.
A cultura latina apresenta um exemplo de fatalismo com Manilio, o qual, na sua obra "Astronomica", o faz surgir de forma velada na sua concepção fatalística baseada na existência de um Logos significando também como Demiurgo da realidade que o circunda.
Uma forma diversa de fatalismo está presente ainda na doutrina cristã da Divina Providência.
Em Nietzsche, fatalismo e confiança são as características do "pessimismo corajoso" do Superhomem, que é, em substância, uma síntese do pessimismo schopenhaueriano e do optimismo antifatalístico emersoniano do sábio "Destino". O destino, segundo Nietzsche, propõe ciclicamente as mesmas situações; não sendo assim possível interpretar a vida, se iludindo de poder nela agir, mas é preciso aceitá-la com uma simplicidade infantil.

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