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Neste julgamento achavam-se
presentes 42 deuses, cada qual guardando uma porta. Diante de cada um, o morto
deveria afirmar que não havia cometido um determinado pecado.
Toth - por aula.xtec2 |
O “Livro dos Mortos” é a prova da
primeira noção humana da vida após a morte do mundo, afirmam alguns, embora
tenha origem em escritos ainda mais antigos, os textos das pirâmides, inscritos
em suas paredes durante a 5ª. dinastia, aproximadamente no ano 2.300 antes da
Era Cristã.
Para permitir que todos tivessem
direito a uma viagem tranquila para o destino desejado após a morte, os textos reproduzidos
dos originais destinados à realeza, eram gravados em material de baixo custo,
que era colocado junto aos túmulos, próximo às múmias.
Ensina o historiador Maurice
Crouzet que o objetivo dos textos era oferecer “ao defunto todas as indicações
necessárias para triunfar das inúmeras armadilhas materiais ou espirituais que
o esperavam na rota do ‘ocidente’”.
Este grupo de escritos era
denominado pelos antigos egípcios como Prt m hru, com tradução literal “A manifestação da Luz”
e se apresentavam como uma ladainha negativa que deveria ser recitada de forma
exata para que as portas guardadas pelos deuses fossem sendo abertas uma a uma,
na direção da vida após a morte conhecida pelos egípcios como “campo dos juncos”.
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Por conter praticamente todos os dez mandamentos das religiões judaica
e cristã, imaginam os estudiosos que o “Livro dos Mortos”, por ser muito mais
antigo, tenha servido de inspiração para os que os elaboraram, especialmente
considerando que o Egito era a terra natal de Moisés. Aliás, a própria noção de
paraíso dos judeus e cristãos, avaliam os cientistas, proveio dos antigos
egípcios.
Quanto ao Novo Testamento, verificou a ciência que as primeiras imagens
da Virgem Maria segurando o menino Jesus no colo foram baseadas nas antigas
imagens de Ísis tendo em seus braços seu filho, o faraó Hórus.
A parte crucial do “Livro dos Mortos”, quando o coração do falecido era
pesado por nele residirem a alma e as emoções boas e más, conforme acreditavam
os egípcios, ocorria já no final da jornada da alma, quando o morto apresentava
ao deus Anúbis o escaravelho do coração, que era pesado em uma balança de dois
pratos, comparado com a pena da deusa Maat, que personificava a verdade e a
justiça. O coração não poderia pesar mais ou menos do que a verdade e por isto
no verso do escaravelho que representava o coração, os egípcios escreviam: “Não
menti. Não roubei. Não enganei. Meu coração é bom”.
A função do “Livro dos Mortos”, parece, era o ajustamento entre o peso
do coração do morto e a pena de Maat, funcionando como um guia ou mapa e também
como um compêndio de magias que o tornava mais leve, já que ninguém pretendia verdadeiramente
confiar na pureza de seu coração.
Aprovado no julgamento, o morto seguia para a vida após a morte.
Reprovado, era atirado ao monstro devorador de mortos, Ahmit, misto de crocodilo,
leão e hipopótamo, que tinha como função o aniquilamento de qualquer alma reprovada
no julgamento dos deuses, fazendo com que ela parasse de existir, algo mais terrível
do que a morte para os egípcios.
“Meu coração: Não te oponhas a mim no tribunal. Não te mostres hostil a
mim. Não digas mentiras sobre mim na presença dos deuses.” – Um dos encantamentos
mais importantes do “Livro dos Mortos”.
O processo de mumificação está intimamente relacionado com a crença na
vida após a morte e com os manuscritos que compõem o “Livro dos Mortos”, vez
que os egípcios acreditavam que, aprovada no julgamento, a alma necessitaria de
um veículo físico para usufruir das delícias do “campo dos juncos”, entre os
deuses.
Segundo a ciência pode apurar, por volta do ano 1.250 antes da Era
Cristã, um escriba do templo, chamado Any, preocupado com sua vida após a morte
e sabedor da existência dos textos das pirâmides, pretendeu possuí-los, pelo
que procurou um sacerdote, inquirindo-o a respeito.
Haviam duas formas de obter o texto: o primeiro era encomendando uma
cópia especial, pagando caro por um livro de grande qualidade feito apenas para
o comprador desde a primeira página. O outro era comprar uma das muitas cópias que
eram produzidas sem encomenda e cujo nome do proprietário, que era repetido
muitas vezes durante o texto, era deixado em branco para, quando surgisse um
interessado, ser preenchido.
Após alguns acertos com sua família, acabou por conseguir uma das
cópias, ao custo de meio ano de salário, conhecida como “O pergaminho de Any”.
Este pergaminho, especialmente preparado para o escriba, garantia não apenas
sua passagem para o “campo dos juncos”, como também a passagem de sua esposa,
Tutu, com a qual permaneceria pela eternidade.
Tutu faleceu antes de seu esposo, mas o pergaminho não foi enterrado
com ela, permanecendo na posse de Any até sua morte.
Any foi enterrado na margem oeste do Rio Nilo, em pomposa tumba,
repleta de joias e outros bens. O processo de sua mumificação levou 272 dias e,
sendo ele membro da nobreza, considerando sua condição de escriba, teve dos
melhores sarcófagos, sendo o enterro acompanhado não apenas dos parentes
chorosos, como também de músicos, dançarinas e carpideiras. Sua cópia do “Livro
dos Mortos” foi entronizada ao lado de seu sarcófago e ele teve tudo de que
necessitava para sua jornada para o “outro mundo”.
livro dos mortos - por loris girl |
A retirada deste importante
tesouro arqueológico do Egito envolve roubo, falsidade, corrupção e muito mais,
mas garantiu a Wallis Budge fama, dinheiro e prestígio.
O “Livro dos Mortos”, afinal, era
uma manifestação legítima de religiosidade, um código de ética ou um meio de
deturpar a própria crença dos egípcios?
As 42 confissões negativas:
1.
Eu não cometi iniquidades.
2.
Eu não saqueei a terra cultivada.
3.
Eu não cometi insolência.
4.
Eu não assaltei.
5.
Eu não agi com luxúria.
6.
Eu não exagerei.
7.
Eu não roubei.
8.
Eu não amaldiçoei ninguém.
9.
Eu não julguei precipitadamente.
10.
Eu não agi com violência.
11.
Eu não fiquei irado sem justa causa.
12.
Eu não cortei animais divinos.
13.
Eu não matei seres humanos.
14.
Eu não dormi com a mulher alheia.
15.
Eu não berrei em conversas.
16.
Eu não roubei oferendas.
17.
Eu não poluí a mim mesmo.
18.
Eu não cometi pecados.
19.
Eu não causei destruição.
20.
Eu não aterrorizei nenhum homem.
21.
Eu não amaldiçoei a realeza.
22.
Eu não pilhei dos templos.
23.
Eu não pilhei.
24.
Eu não desperdicei água.
25.
Eu não cometi falsidade.
26.
Eu não agi com raiva.
27.
Eu não agi com arrogância.
28.
Eu não roubei comida.
29.
Eu não fui surdo a necessitados.
30.
Eu não blasfemei.
31.
Eu não amaldiçoei.
32.
Eu não aticei brigas.
33.
Eu não agi com falso orgulho.
34.
Eu não transgredi.
35.
Eu não fiz ninguém chorar.
36.
Eu não agi com desdém.
37.
Eu não abati o rebanho divino.
38.
Eu não forniquei.
39.
Eu não enriqueci ilicitamente.
40.
Eu não fiz o mal.
41.
Eu não destruí meu coração.
42.
Eu não desprezei as tradições.
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