Lemos algumas obras de um grande autor – Zygmunt Baumann – que nos permitiram alcançar algumas respostas que buscávamos há tempos.
Baumann - por Maria Eugênia M. Guimarães |
Zygmunt Baumann nasceu em 1925, na Polônia, e até o momento produziu uma imensidão de livros em sua especialidade, a sociologia, inovando a ponto de receber vários prêmios internacionais.
Chamou-nos mais a atenção a sua obra “Modernidade Líquida”, que inicia avaliando a questão do lixo e do consumismo para depois comparar como estes conceitos estão sendo aplicados aos seres humanos.
De fato, a questão da modernidade e sua própria conceituação devem ser avaliadas em seu processo, iniciado nos séculos XVI a XVIII, período das grandes navegações e descobrimentos, que alargou, ou democratizou, a visão humana do mundo, permitindo o renascimento cultural e a Reforma Protestante, que por um lado foram os primeiros estímulos ao liberalismo, mas trouxeram como reflexo as sementes do individualismo exacerbado.
O iluminismo se fez a segunda fase da modernidade, caracterizada pela universalidade da razão e pelo estabelecimento do primado do indivíduo e de sua liberdade.
Aparentemente foi a partir deste ponto que perdemos o controle das coisas, já que no século XX surge uma nova era, marcada por um total rompimento com o passado, provocando alterações fundamentais no âmbito das relações sociais, ciência, filosofia, educação, moral e principalmente da economia.
Modernidade Líquida |
Em “Modernidade Líquida”, Zygmunt Baumann trata justamente desta transição e de suas características, significados e grandes contradições e aborda os principais sinais marcantes da dita “modernidade”: inconstância e mobilidade (por isto a liquidez da modernidade em sua visão e também na nossa, após a leitura do livro).
No caminhar da sociedade humana, contrariamos as previsões de vários grandes pensadores. Vamos mencionar somente dois:
Aldous Huxley, em “Admirável mundo novo”(1931) previu uma sociedade organizada e feliz, vivendo na opulência, devassidão e saciedade.
George Orwell, no livro “1984”(1949), via nosso futuro tomado pela miséria e pela escassez e dominada por um governo totalitário.
As duas visões, totalmente distintas, tinham como ponto comum a concepção de uma sociedade absolutamente controlada, de um lado (Huxley) pela administração constante de uma droga especialmente preparada para gerar felicidade (que chamou de “Soma”) e de outro (Orwell) pelo “Grande Irmão”.
As previsões de ambos, se de um lado parecem ter sido contrariadas, por outro aparentam ter sido fundidas.
Em “Modernidade Líquida”, Baumann acaba por comparar os seres humanos ao lixo.
Nossos lixões estão entulhados, mas não raramente de objetos dos quais nos livramos em plena utilidade tão somente por termos adquirido um mais novo, já que isto parece nos garantir um aparente status social e financeiro.
Livramo-nos, descartamos o mais velho, embora ainda útil, tão somente pela novidade de um modelo recém-lançado e seguimos o mesmo raciocínio com os seres humanos.
Não temos mais desempregados hoje em dia.
O desemprego, no passado, era uma condição passageira, mas solucionável.
Hoje produzimos pessoas descartadas como o lixo e destinadas à subocupação!
O mesmo fizemos com vários conceitos familiares e sociais do passado: os transformamos em lixo!
Respeito, disciplina, ordem, pais, país, escola, casamento, filhos, amor, felicidade, trabalho, irmãos e muito mais: transformamos tudo isto em lixo!
E pior: sem perceber, ou por vezes conscientemente, transformando aquilo que era sólido em líquido, perdemos referenciais.
Lembram o quanto um casamento podia ser palpável, feliz e sólido?
Lembram como os filhos respeitavam seus pais e eram educados e disciplinados?
Lembram quando havia ordem no falar e respeito no ouvir?
Lembram quando a vida humana tinha valor?
Parece que realmente tornamos tudo líquido e que por vezes não temos “nortes” para seguir.
O que fazer agora? Gostaríamos de saber a opinião de nossos leitores. Comentem este artigo com suas ideias sobre a correção dos rumos sociais, se é que isto é necessário.
Boa segunda-feira e excelente semana para todos.
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Um comentário:
A Humanidade chegou a tal ponto de degeneração que,talvez o resgate dos valores citados somente ocorra se houver um "Renascimento para o Ser Humano".
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