Livro da Lei dos Maçons - por Denilton Santos |
Temos constantemente ouvido e lido algumas aberrações, infelizmente costumeiras em relação à Maçonaria.
Uma delas refere-se ao termo “Grande Arquiteto do Universo”, que, segundo alguns designaria a deidade[1] do(s) deus(es) adorado(s) pelos maçons, em franca oposição ao que é bom e correto.
Bem, realizamos algumas poucas pesquisas a respeito do termo “Grande Arquiteto do Universo” e abaixo apresentamos as conclusões relacionados ao seu uso não apenas em Maçonaria, mas na religião Cristã, no hermetismo e na gnose, na esperança de esclarecer algo a respeito.
Na cristandade:
O Cristianismo usa regularmente conceituar Deus como “Grande Arquiteto do Universo”.
Bíblias desde Idade Média têm ilustrado Deus como o arquiteto do universo. Esta referência é apresentada com regularidade por apologistas e professores cristãos mundo a fora.
Tomás de Aquino sustentou que existe um “Grande Arquiteto do Universo”, que seria a “causa primeira”, também denominada Deus, e João Calvino publicou um livro em 1536, denominado “Instituto da Religião Cristã”, em que claramente aponta o “Grande Arquiteto do Universo” como Deus e refere-se aos Seus trabalhos como “arquitetura do universo”.
No “hermetismo”:
O “Grande Arquiteto do Universo” seria a potencialidade divina de cada indivíduo, pois que na tradição hermética todo indivíduo tem a capacidade de tornar-se Deus, que para seus adeptos seria um conceito interior e não exterior aos Homens.
O termo também poderia referir-se ao “mentalismo” (leia o artigo “As sete leis herméticas”), ou seja, o conceito pelo qual criamos nossa própria realidade. Por isto seriamos o “arquiteto”.
Sob a ótica da “gnosis[2]”:
O conceito de “Grande Arquiteto do Universo” ocorre no gnosticismo. O Demiurgo é o Grande Arquiteto do Universo, o Deus do Antigo Testamento, em oposição a Cristo e Sophia, mensageiros da Gnose do Verdadeiro Deus. Ebionits como Notzrim, por exemplo, o Rabba Pira, é a fonte de origem, e, recipiente de todas as coisas, que é preenchido pelo Rabba Mana, o Grande Espírito, do qual emana a primeira vida. A primeira vida reza para a companhia e filhos, após o que a segunda vida, o Ultra Mkayyema ou mundo que constitui Æon[3], o Arquiteto do Universo, vem a ser. A partir desse Arquiteto vem uma série de æons, que erguem o universo sob o comando da gnosis, o conhecimento personificado de vida.
Na Maçonaria:
Um dos requisitos para ser feito maçom é a crença em um Ente Superior, tenha ele o nome ou designação que tiver, responsável pela criação e pela existência, embora este não seja um ponto doutrinal da Ordem Maçônica.
Não tendo característica sectária, a Maçonaria aceita em suas fileiras pessoas de todas as tendências e concepções religiosas, desde que respeitado o mencionado no parágrafo anterior.
O termo “Grande Arquiteto do Universo”, em Maçonaria, designa uma grande força superior criadora de tudo o que existe. Assim o é para que não se faça referência a qualquer religião ou crença, permitindo que adeptos de todas elas possam se reunir numa mesma loja maçônica, sem que suas convicções sejam invadidas ou vilipendiadas, o que, ressalte-se, é muitíssimo comum.
A atividade maçônica em relação ao “Grande Arquiteto do Universo” envolve tão somente estudos filosóficos e afasta-se do proselitismo[4].
[1] Deidade é o conjunto de forças ou intenções que materializam a divindade. A deidade é a fonte de tudo aquilo que é divino. A deidade é característica e invariavelmente divina, mas nem tudo o que é divino é deidade necessariamente, ainda que esteja coordenado com a deidade e tenha a tendência de estar, em alguma fase, em unidade com a deidade – espiritual, mental ou pessoalmente.
[2] Gnose (ou Gnosis) é substantivo do verbo gignósko, que significa conhecer. Para os Gnósticos, Gnose é conhecimento superior, interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é semelhante ao da palavra epistéme.
Em filosofia, epistéme significa "conhecimento científico" em oposição a "opinião", enquanto gnôsis significa conhecimento em oposição a "ignorância", chamada de ágnoia.
Para os Gnósticos a gnose é um conhecimento que brota do coração de forma misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual, mas aquele que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado, porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna.
O objeto do conhecimento da Gnose seria Deus, ou tudo o que deriva d'Ele. Para seus seguidores, toda Gnose parte da aceitação firme na existência de um Deus absolutamente transcendente, existência que não necessita ser demonstrada. "Conhecer" significa ser e atuar (na medida do possível ao ser humano), no âmbito do divino.
O termo "Gnose" acabou designando, nos tempos atuais, um conjunto de tradições que acreditam no aspecto espiritual do Universo e na possibilidade de salvação por um conhecimento secreto. Podemos encontrara a mesma "Gnosis", como corrente de pensamento místico, em toda as grande religiões e culturas: na cultura Indiana há encontramos com o nome de Jñana (ou Gñana), no Islamismo a encontramos dentro Sufismo com o nome de Marifa, e no Judaísmo Cabalístico com o nome de Daath. Mais foi nos três primeiros Séculos do cristianismo que ela teve seu apogeu, sendo "a primeira forma de manifestação do um pensamento filosófico e teológico cristão", o chamado gnosticismo cristão.
[3] Éon, eão, eon ou ainda aeon significa, em termos latos, um enorme período de tempo, ou a eternidade. A palavra latina aeon, significa "para sempre". Ela é derivada do grego αιών (aión), cujo um dos significados é "um período de existência" ou "vida".
[4] O proselitismo (do latim eclesiástico prosélytus, que por sua vez provém do grego προσήλυτος) é o intento, zelo, diligência, empenho ativista de converter uma ou várias pessoas a uma determinada causa, idéia ou religião (proselitismo religioso).
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