Uma farsa antimaçônica

Les Mystéres De La Franc-Maçonnerie, por Double--M

Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand-Pagès foi iniciado na Maçonaria francesa em 1891, sendo dela expulso em 1892, dez meses após sua iniciação, por envolvimento em casos de plágio e difamação.

Marie Joseph havia adotado para si o pseudônimo Leo Taxil, com o qual durante algum tempo escreveu vários livros em desfavor da Igreja Católica, taxando-a de hedonista[1] e sádica.

Com sua expulsão da Maçonaria francesa, voltou-se contra esta e, em 1885, foi a público declarando-se convertido ao catolicismo romano, dizendo-se arrependido de tudo quanto havia escrito contra a Igreja Católica e que pretendia reparar seu erro.

Afirmou na ocasião que, para redimir-se, delataria uma série de iniquidades das quais tinha conhecimento, dentre elas a existência de uma organização denominada “Palladium”, cujo objetivo era a dominação dos povos e das lideranças político-religiosas.

Leo_Taxil_illustration_1, por ck-flix

Acusou a Maçonaria de ser uma seita satânica que cultuaria a figura de “Baphomet” (veja a postagem “O bode e a Maçonaria”), como também que leva seus membros ao vício e ao assassinato e que Lúcifer comandaria a organização por intermédio de Albert Pike, com quem se encontraria pessoalmente todas as sextas-feiras, às 15 horas. Pike, ainda segundo Marie Joseph, seria o “papa luciferianista” e líder maior de todos os maçons do mundo.

Marie Joseph (ou Leo Taxil) concebeu e desenhou a personagem Diana Vaughan, supostamente descendente do alquimista rosacruz Thomas Vaughan e que teria se envolvido com a “maçonaria satânica”, da qual teria se libertado ao afirmar grande respeito por Joana d’Arc, cujo nome teria espantado a horda de demônios que a envolvia.

Após a criação desta personagem, Marie Joseph afirmou ser seu parceiro literário, lançando o livro “Eucharistic Novena”, composto por uma grande variedade de orações que obtiveram elogios do próprio Papa, a ponto de ser por ele recebido em 1887. O Papa, convencido da conversão e das intenções de Marie Joseph, passou a financiar as suas publicações!!!

Leo Taxil, por G-Rico

A onda de mentiras e fraudes continuou por dez anos, sob o patrocínio do Papa, mas em 19 de abril de 1897 uma conferência foi organizada na Sociedade de Geografia. Neste evento Marie Joseph revelou as suas farsas e fraudes, dentre elas que Diana Vaughan era sua criação, inspirada no nome de sua secretária pessoal, como também sobre a inexistência da Ordem “Palladium”, também uma sua criação. Em seguida explicou com detalhes toda a trama que houvera desenvolvido contra a Maçonaria, da qual havia sido expulso, agradecendo à Igreja Católica pelo incentivo e publicidade e afirmando que sua “brincadeira amigável” tinha a intenção de matar os maçons “pelo riso”.

Esta conferência reuniu vários órgãos da imprensa da época e causou tamanho rebuliço que a polícia teve que ser acionada para proteger Marie Joseph da revolta pública diante de sua impostura.

Infelizmente, embora fartamente comprovada a fraude inclusive pela confissão pública de seu autor, seus argumentos ainda encontram eco nos adeptos das teorias conspiratórias e naqueles que buscam um bode expiatório para as mazelas do mundo que seja capaz de afastar suas próprias responsabilidades, fazendo da Maçonaria seu alvo pelo desconhecimento e pelo preconceito.

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[1] Aquele que, de forma decadente, adota uma atitude voltada aos prazeres materiais.

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